Atualmente, é consensual a visão  de que a internacionalização é o grande desafio da universidade brasileira. A  conjunção entre a língua portuguesa, pouco falada, e o isolamento geográfico em  relação aos grandes centros universitários da Europa e dos EUA contribuíram  para a produção intelectual brasileira ser desconhecida no resto do mundo. 
Quem frequenta congressos  internacionais sabe que tal desconhecimento não tem necessariamente a ver com a  qualidade de nossa produção, mas, principalmente, com a dificuldade de sua  circulação. Com a transformação do País em ator importante da nova geopolítica  mundial é natural que muitos países comecem a se perguntar sobre o que as  universidades daqui produzem, quais seus debates e correntes fundamentais,  assim como se associar a tais debates. 
É nesse contexto que as  discussões sobre internacionalização das universidades se colocam. No entanto é  triste ver que elas ocorrem de maneira irrefletida, parecendo guiar-se  meramente por posições em rankings internacionais. É impressionante como as  universidades brasileiras não estão preparadas administrativamente para isso.  Na USP, é comum um aluno esperar inacreditável um ano e meio para ver um pedido  de cotutela de doutorado assinado. Uma proposta de acordo de cooperação  internacional pode demorar mais tempo. Tudo porque não temos pessoal suficiente  e simplicidade burocrática. 
Por outro lado, a verdadeira  internacionalização se refere ao tripé: pesquisa, formação e docência. Até  agora, enxergamos só o segundo ponto, com bolsas de estudo para que nossos  alunos passem temporadas no exterior. Diga-se de passagem, o último programa  brasileiro de bolsas (Ciência sem Fronteiras) teve o disparate de ignorar as  áreas de ciências humanas na definição de suas prioridades, o que só se  justifica por uma ideia tosca de desenvolvimento social que nem sequer a  ditadura militar teve coragem de implementar. 
Mesmo no quesito  "formação" seria fundamental que nossas universidades permitissem, de  uma vez por todas, que estrangeiros prestassem concursos para professor  universitário, mesmo que não tenham domínio do português. Basta que eles se  comprometam a aprender português. Nossos alunos teriam uma formação mais sólida  e diversificada. 
Por sua vez, nossa pesquisa  deveria ser objeto sistemático de difusão internacional. Os professores  deveriam ter linhas de financiamento para a tradução de artigos e livros a  serem publicados em outros países. 
O governo deveria investir na  formação de redes internacionais de pesquisadores por intermédio de acordos  acadêmicos. Com um conjunto claro de ações, nossos resultados na  internacionalização seriam muito mais visíveis. 
Vladimir Pinheiro Safatle é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo e um dos coordenadores da International Society of Psychoanalysis and Philosophy. Fonte: Folha de São Paulo
 
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